terça-feira, junho 28, 2005

RTP Internacional ou Pedro vient ici

Há ocasiões em que, por acasos e agruras da vida, um indivíduo é forçado a ver a RTP Internacional. São geralmente situações de solidão, indapatação, momentos em que o nosso cantinho se enaltece como um porto de abrigo. E que recebe o emigrante solitário em troca da fidelidade intestina ao canal luso? Emissões sem som, onde só vê a boca do indivíduo a mexer; ou, ainda pior, emissões em que a imagem está em directo e o som em diferido. É então que o jornal da noite assume contornos de novela mexicana: o nosso caro José Rodrigues dos Santos já está a sorrir, mas o emigrante ainda ouve a notícia da tragédia que assolou um distante país asiático; depois o semblante de José Rodrigues fica carregado e o emigrante ouve uma paternal descrição de crianças que apanharam lixo nas praias nacionais para garantirem um futuro melhor. Outros momentos há de igual esplendor: momentos em que alguém se esquece de carregar num botão e o emigrante tem acesso a programas que passam no canal 1 da RTP. Pensa o emigrante: "Que alegria! Um momento de lazer em que não estou a ver a tromba do José Hermano Saraiva, a interminável novela "Nunca digas Adeus", ou o amigo na roça cabo verdiana com os tachos também cabo verdianos". Mas são sol de pouca dura - a interromper abruptamente um progama normal (o indivíduo que tinha de carregar no botão lembrou-se finalmente de cortar a emissão para fora de Portugal) há magníficos genéricos a anunciar as actividades culturais lusas no mundo: o encontro dos reformados na associação de transmontanos de Leipzig, o baile de donas de casa do bairro 3 de Paris, ou ainda, como ex-libris, a actuação de Tony Carreira na casa do benfica de Thun. E suspira aliviado: já há programa para o fim-de-semana! Há ainda genéricos igualmente interessantes, intitulados "Se vier a Portugal veja". Aqui pode o emigrante sonhar com as exposições em Celourico da Beira, bailados em Freixo de Espada a Cinta, actuações do Tony Carreira no Montijo (está em todas, o Tony) e lamentar a distância que o separa do porto de abrigo. É assim a RTP Internacional. Como querem que não haja gritos como "Pedro vient ici. Anda cá já ou parto-te a trombra, c****" nas praias nacionais?